sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Dois meses

Ergamos nossas taças imaginárias e brindemos aos meus dois meses em Barcelona! O dia está lindo, um sol gracioso, um ventinho refrescante que não cessa e eu aqui, na casa da Mari, escrevendo enquanto ela prepara nosso almoço. Agora virou moda: ela bota a mão na massa e eu uso a net. Parece até que sou folgada. Digamos que sou um pouco mesmo, mas ou é isso ou não tenho como postar e nem como usar internet.

Uau! Nem eu acredito que já faz dois meses. Lembro exatamente da minha chegada, da primeira visão que ficou grudada em mim de Barcelona (o aeroporto todo preto), a primeira noite, os amigos trixistas, depois o Sabonete, as mudanças de casa, a Sala Bikini, a Isolda e, finalmente, o Joselito.

Dormimos juntos esta noite e desde que levantei estou com vontade de escrever sobre ele. Hoje talvez seja o dia perfeito. A Lua mudou ontem, estamos na lua cheia e seu Jose se sente influenciado por ela. Não sei porque, mas a explicação dele é de que é porque ele é de Câncer.

Joselito
Ele estava entre os trixistas que conheci na primeira noite em Barcelona, mas não sei porque cargas d'água eu nem dei bola. Não sei se por ele ter dreads e eu não achar a menor graça neles (até então). Não sei se porque ele também não me deu muita pelota. Ou talvez porque eu achasse que ele era italiano (não sei de onde tirei isto). O fato é que só fui me dar conta dele dias depois. E nem foi pela beleza que, aliás, a meu ver, lhe falta um pouco. Mas o que talvez falte em beleza sobra em carisma, simpatia, diversão, astúcia, inteligência, consciência ambiental, humana e muitas outras coisas. A primeira coisa que enxerguei nele foi o senso de humor. Se ele ficar 5 minutos com alguém é capaz de fazer, nesse intervalo, mais de duas mil brincadeiras. Seja com a forma de falar da pessoa, com algo que a ela disse, seja pela roupa...não importa. Confesso que isso me atraiu muito nele. Depois me encantei com a forma como ele trata os idosos e as crianças. Creio que se ele tivesse em tapete vermelho na mochila, seria capaz de estendê-lo à frente de todos os abuelos que ele encontra pelo caminho. E com as crianças? Troca idéia de igual para igual. Pára a toda hora, se estiver trabalhando, para mexer com alguma que, por acaso, cruze o seu caminho. Depois descobri, por ele mesmo, que ele adora crios. Tanto que foi durante um tempo monitor em um acampamento. E quanto aos avós...:"temos que trata-los com o maior respeito possível pois são gente que viveu muito, viu muita coisa e sempre têm algo de interessante para contar". Se você leu tudo até aqui, imagine que ao escrever isso eu estou quase suspirando...

Cerveja vai, noitada vem e finalmente nós ficamos. E ficamos mais, e mais. Passei a dormir alguns dias na sua casa e me sentia como uma princesa. Recebia sempre muito carinho (antes, durante e depois de qualquer coisa). Sempre havia uma cerveja e um copo (!!!) gelado me esperando. Sempre tinha um porro também. E sempre aquele aconchego da cama. Dormir com ele era ótimo e acordar melhor ainda. Sempre com palavras doces, bons dias regados a sorrisos e beijos em todo o meu rosto, depois pelo meu corpo. Agora que já levamos mais de um mês nesse romance, já não me sinto mais uma princesa. Agora eu sei que sou tratada como rainha. Mal durmo no meu quarto no Gótico. Ádria todos os dias pergunta se voltei para casa. Acho que em 15 dias durmi 3 vezes na casa dos meninos, um dia na casa da Mari e os outros todos com Jose. E nunca me ofereço para nada, é sempre ele que me convida. Ou pessoalmente, ou por mensagens carinhosas e ao mesmo tempo divertidas. Cada dia que descubro algo sobre ele, o que ele fez ou o que fez, me sinto mais encantada. Tenho certeza que encontrei um homem raro. Muito raro. E sinto cada vez mais vontade de cuidar bem dessa jóia.

A data da volta
Ontem pedi para mudarem a data de volta da minha passagem. Estava marcada para dia 30 de agosto e agora só volto dia 17 de dezembro. Aliás...será que eu volto mesmo? Às vezes me pergunto se quero voltar. E a resposta é sempre não. Porque ainda estou em lua-de-mel com tudo, porque ainda acho que tenho muito para ver pela Europa (a começar pela própria Espanha), porque acredito que algo de muito bom ainda vai me acontecer. Sim, já se passaram muitas coisas boas, mas acho que o melhor está sempre por vir...

Mudanças bem-vindas
Se tinha gente que me achava estressada demais em São Paulo, essa gente ia se surpreender com o que me tornei nesses dois meses. A vida aqui tem outro ritmo, talvez porque eu me sinta em férias constantes por não ter um trabalho diário, rotineiro. Sinto-me muito mais tranqüila, com tudo. Não sei quando foi a última vez que me irritei com algo. Nem quando cheguei na casa nova e vi que tava tudo nojento. Nem quando não conseguia dormir no albergue, na primeira semana. Nem quando a dona do piso em Poble Sec me tirava para Cristo e botava toda culpa pela desordem na casa em mim. Nem quando pego ônibus errado. Nem quando me perco (e isso acontece, pelo menos, 3 vezes ao dia). Nada. Nem TPM eu tenho aqui. Só sei que vou ficar menstruada porque meus seios ficam mega doloridos. Não me importo de suar o dia todo e só tomar banho à noite (quando dá eu tomo mais, mas se não rola também não tem crise). Não me importo de demorar quase meia-hora para chegar da casa do Jose até a minha casa porque tem gente demais pelo caminho e eu não quero importunar quem está na calçada. Espero tranqüilamente que as pessoas se dêem conta que tem uma bici atrás delas ou...eu simplesmente espero. Esperar. Esse verbo que eu nunca conjuguei bem em São Paulo é um exercício diário na minha movida aqui. Agora mesmo, escrevendo este post, tento encontrar algo que possa me tirar do sério e a resposta é...nada.

Procura-se
Estou procurando outro quarto para morar. É cedo ainda, afinal fico no Gótico até 4 de setembro, mas quero olhar com muita calma, visitar os pisos para não entrar em fria de novo. Comentei isso com Joselito e ele disse que uma mulher prevenida vale por duas. Claro. Outro dia, como tínhamos sede e não tinha onde a gente comprar água, ele sacou uma garrafa da mochila e disse que um homem prevenido vale por dois. E para fechar a nossa conversa sobre os quartos ele completa: "agora somos quatro".

Dia dos pais
Eu gostaria muito que meu irmão ou minha prima mostrassem isso para o meu pai. Domingo foi Dia dos Pais no Brasil e eu nem me dei conta disso. Aqui não tem essa comemoração e eu só lembrei porque alguém perguntou se eu tinha ligado pro Brasil para desejar Feliz Dia dos Pais pro meu pai. Na hora me deu até um friozinho no coração, por ter esquecido. Mas imediatamente achei tudo uma bobagem. Data comercial da porra. Penso no meu pai todos os dias. Senão imediatamente ao acordar, logo que vejo ou faço algo que ele também iria gostar. Lembro dele quando vejo os artistas de rua daqui e penso que ele, com a violinha debaixo do braço e tocando pro povo, ia fazer o maior sucesso e ainda ganhar em euros. Penso nele quando estou com uma pessoa que acabei de conhecer e me vêm à cabeça a última frase dita por ele para mim no aeroporto: "não confie em qualquer pessoa". Mas não tem jeito, eu confio. Não consigo ver maldade nas pessoas e acho que isso me protege de algo de ruim que possa, por ventura, estar destinada a mim. E a tal da energia positiva. Lembro do meu pai quando abro uma cerveja gelada (e bebo todos os dias, sem exceção) e lembro das nossas noites de futebol na Globo. Lembro dele quando vejo os remédios que ele me fez trazer do Brasil (todos em vão porque tenho saúde de ferro e nem ressaca eu tenho). Meu pai, meu pai. Sempre falo dele para a Mari. Acho que porque de tudo e todos ele era a pessoa que eu realmente gostaria de ter por perto. Pai, se você estiver lendo isso, saiba que não é um dia como domingo que vai nos fazer mais ou menos próximos, mas sim o amor que sentimos um pelo outro. E você já deve estar careca de saber que eu te amo.

Por hora é só, pessoal.

4 comentários:

Janaina Basilio disse...

Ao ler este post senti vc num estado de equilíbrio que há muito não via ... Sei lá, uma Kele centrada, adulta, feliz.
Parabéns florzinha! Continuo aqui na torcida pra tua felicidade.

bjs

Zé Tadeu disse...

Alienígena do mal... por favor, devolve a Kel... Não sei o que é, mas algo está te fazendo bem... Será o mocinho, o país, o clima, ou a certeza de que a vida é mais do que se matar em redações e cafés? Sempre com saudades... e achando que o livro vai ter um final muito surpreendente!

Édnei Pedroso disse...

Excelente saldo, Rainha.

Beijos.

FeltroMonia disse...

Sabe que post todo merecia comentários, mas quando fala do seu Salvador, me derreto toda, me arrepio e ainda...olho fica mais molhado, emocionado! ô se fica! Portanto, fica apenas isso de comentário e digo mais . . . aparece no msn, porra