sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Welcome to the heaven (and to hell) e Cirque du Soleil

Vamos que vamos que o show nao pode parar! Antes de mais nada, quero dizer que nao ando postando tanto esses dias porque andei resolvendo umas paradas (como procurar trampo) mas acho que agora vou voltar a dar o ar da graca mais vezes. A todos aqueles que avidamente esperaram por notícias deste lado, de cá, eu digo: chega de saudade!

E para comecar vou dizer que foi preciso esperar mais de 3 meses para conhecer a verdadeira movida Barcelona, aquela que eu tanto queria experimentar desde que cheguei. A espera nao foi em vao. Semana passada a cidade praticamente parou para as Fiestas de La Mercè, a padroeira de Barcelona. Foram 5 dias de festividades intensas, com fogos, shows (o do Ed Motta foi cancelado, acreditam?), apresentacoes típicas, feiras...E gente. Muuuita gente por todos os lados. Eu, como nao conhecia quase nada do que ia rolar, fiquei meio que na bota do Jose para ele me dizer o que realmente valia a pena. Ele, e muitos outros trixistas, elegeram o Parc Forum. Seria sábado à noite e a festa prometia. Música eletrônica all night long e os tao esperados aditivos.

Nossa comitiva fez o aquecimento na base mesmo. Mandamos, cada um, uma raya de speed (sim, se cheira como cocaína) e logo depois alguns cristais de MDMA (anfetamina também, mas que dá outra vibe). Um pouco de cerveja para tirar o amargo da boca e pernas nas bicicletas. Na base rolou de tudo um pouco. Além das drogas citadas, ainda fumamos uns porros e teve quem quis a companhia da mulher de branco. Eu tava sussa.

Atencao para nossa chamada: Amanda (vulgo Fumanda), Rodrigo, Joselito, Txisti, Eneco (o pedaco de mal caminho amigo do Txsti, que veio de Pamplona nos visitar) e eu. Já na bici senti os primeiros efeitos do speed...A brisa da noite era como pétalas de rosas tocando meu corpo. Claro que teve uma queda, já sei que os estropeamentos fazem parte dos nossos passeios. Dessa vez foi o Rodrigo, mas nao foi nada grave. No meio do caminho outra parada, uma aguinha e mais MDMA. Eu já tava na porta do céu...

Chegamos no Parc, prendemos as bicis (detalhe: Joselito tava com a bicing pública e teve de deixá-la um pouco distante do lugar do show. Como ele chegou até lá? Correndo, meu bem! E a gente de bici, rachando o bico. Devo dizer que ele nao decepcionou) e fomos encontrar o resto da turma. Uma parte da galera foi de metro. Nos encontramos e, quando os primeiros sons realmente entraram na cabeca, eu só conseguia dizer para o Joselito: "Welcome to the heaven". E nos beijávamos, com as pupilas querendo devorar umas o corpo do outro. Incrível. Com ecstasy me senti muito bem, mas no sábado à noite, eu posso dizer que estava estupenda.

Bebemos cerveja, água, mandamos mais MDMA e a festa, infelizmente, acabou. Passei o domingo todo acordada, sem poder dormir. Quem tinha que trabalhar ficou um trapo. Eu tava ótima, nem acreditava. Ainda cuidei do Jose que passou da conta e acabou vomitando já pela manha (devia ser já as 8 da matina).

Aí, na segunda...comecei a sentir uma tristeza, uma vontade de chorar e tal. Enfim, foram dois dias bem down, sem dormir direito, mas hoje já me sinto ótima. Tao ótima que acabo de comprar entradas e vou me dar ao luxo de ver Cirque du Soleil aqui, em Barca. E com Joselito, claro. Saindo daqui vou passar numa loja, comprar um vestido bem bacana porque quero que seja uma noite memorável. Sabemos que será, nao é mesmo?

Em meio a tudo isso, li dois livros muito bacanas que Jose me emprestou e acabo de pegar mais um (ando devorando as páginas e tudo em espanhol, porque eu nao sou pouca mixaria). Como sempre, o bom gosto do moco é explícito: me trouxe A sangre frio, de Truman Capote. Vai ser a primeira vez que vou ler um livro depois de ver o filme. Sempre foi o contrário.

Well, well, well, Samuel, acho que isso é tudo. Vamos ver se no próximo post já estou empregada. Definitivamente.

Hasta luego!

Recados do coracao
Aline, parabéns pelo Dieguito. E parabéns pelo parto. Quando li que foi normal fiquei de cara. Voce realmente me surpreendeu. Saúde para o bebê e para toda a família. Agora comeca, para vocês, a fase dois. Boa sorte.

Mo, te amo. Desculpa o sumico, ja expliquei. Penso sempre em vc, no que poderíamos ver se estivéssemos juntas ai. E quem sabe aqui?

Janaaaa!!! Valeu por nao desistir de mim. E, aproveitando: se eu voltar em dezembro vc me acolhe? rs...

Ednei, meu rei. Nao me deixei sem notícias, sim? Te mandei um e-mail, dá uma olhada.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Diario de bordo Zurich

Antes de mais nada quero dizer que esse computador estah uma merda...nao sei onde ficam os dois pontos, o acento agudo, nem nada. Putos marroquinos...

Bem, se eu estou aqui, escrevendo este post, voces ja podem imaginar que deu tudo certo na ida e na volta. Entao, vamos ao que interessa: o que soh euzinha vi.

Cheguei em Zurich no sabado, la pelas 7 da noite. Demorei um monte para sair do aeroporto porque, eh claro, eu nao me achava. Tudo em alemao. Ou ingles. Enfim, consegui chegar na plataforma do trem que me levaria ate a estacao proxima ao hotel.

O pai do tio da Sukita
Mesmo na plataforma que eu acreditava ser a correta, tentei confirmar com um senhor que trabalhava ali, recolhendo os carrinhos vazios. Ele falou em italiano e eu entendi bem. O foda foi o fim da conversa: o velho pediu meu telefone, dizendo que eu era "bella" e coisa e tal. Ai, ai, ai...ja cheguei chegando.

No hotel tudo certo. Fiz o check in com um cara que me pareceu bem gente boa. Tudo bem que ao inves de 85 francos suicos ele passou 850 no meu cartao (e pasmem: o Visa aceitou!), deve ter sido a emocao de ver uma brasileira. Fui pro meu quarto, ler. Chovia, fazia um frio da porra e eu nao tinha vontade nenhuma de ficar zanzando debaixo da chuva sem guarda-chuva (acabei comprando um na Swatch. Nao, nao eh pra me gabar, mas era o unico lugar aberto no domingo) Acabei descendo uma vez mais para comprar uma agua e depois fiquei lendo um livro que Jose me emprestou, chamado "El Amante", de Marguerite Duras. La pelas 10 da noite eu ja tava nanando, no meu pedaco de nuvem...Minha cama era muito boa, lencois brancos, edredon branco, tudo perfeito para uma noite de sono tranquilo. O duro eh que tinha uma mulher que nao parava de comer a noite toda. E toda hora era saco de alguma coisa sendo aberta, som de garrafa de algo...Mas dormi.

A nuvem
Agora entendo quando a Enferma fala que a cama do Martinho na Suica eh um pedaco de nuvem. A cama do hotel jah era, imagina as camas das casas?

Domingo levantei cedo, tomei cafe e fui ver a cidade. Zurich pode ser vista em duas horas. Mais do que isso eh aborrecimento. Estava tudo fechado, por ser domingo. Logo que cheguei numa ponte para tirar fotos, adivinhem? Escuto a pergunta bem familiar: "tu eh brasileira?". Bom, eram dois brazucas que tambem estavam ali pelo mesmo proposito de renovar o visto. A diferenca eh que eles viviam na Austria. Tiramos fotos, conversamos, andamos de trem e la pelas 2 nos despedimos. Eu queria comer algo. Fui a um restaurante bonitinho, praticamente do lado do hotel. Pedi um frango ao curry com arroz e depois uma sobremesa e um cafe. Foram 36 francos e uns quebradinhos. Ainda dei gorjeta (algo como 25 euros). Nada mal.

Voltei para hotel, dormi um pouco e resolvi sair para ver a cidade durante a noite. Como eu imaginava, Zurich fica bem mais charmosa sob a luz da lua (ou quase, afinal a noite estava nublada). Acabei indo jantar no Mc Donalds porque, acreditei, era a opcao mais barata e eu nao tava nem um pouco a fim de gastar. Queria deixar a grana para comprar queijos e chocolates para voltar a Barcelona. Minha casa.

Voltei para o hotel umas duas horas depois. O cara que fez meu check in estava na recepcao. Pedi para ele me ajudar a imprimir a passagem de volta para o Brasil. Nao sei porque, mas tava com isso na cabeca, que poderiam me pedir isso na volta a BCN e eu nao tinha imprimido. Ele foi um fofo, me explicou que ninguem pode entrar no escritorio e tal mas que ia deixar porque tinha ido com a minha cara (na verdade me liguei que ele tinha ido mesmo com os meus cornos porque me deu a chave do locker sem pedir o deposito de 10 francos). Agradeci imensamente e quando ia pro meu quarto ele diz, em ingles, que se eu quisesse descer para tomar algo com ele (ah! ja ia esquecendo, pedi um cafe quando voltei da rua e ele me serviu. Nao me cobrou nada, achei que tava meio mal pelo caso do cartao...) que eu era bem-vinda.

Sim, eu voltei. Apesar de algo me dizer que eu nao devia, outro algo dizia bem mais alto para eu ir, para treinar meu ingles, para conversar um pouco com alguem bem diferente de mim. Acabei aceitando uma cerveja enquanto ele tomava cafe-com-leite e agua com gas. Sim, eu falei o tempo todo em ingles. Por mais de 2 horas pude constatar que o que me falta eh soh mesmo me jogar no lero-lero que a coisa flui.

E ai...depois de duas cervejas, de ele dizer que eu tinha cor de chocolate suico, que me achou muito bonita, que me achou muito inteligente, simpatica, que adorou meu cabelo...a gente se beijou. Ainda acredito que a melhor forma de conhecer uma lingua nova eh se jogando. Mas depois, bem na sequencia, me bateu aquele arrependimento...Pensei no Joselito. Pensei tambem que o cara tava muito afobado, colocava minha mao no coracao dele, dizendo que eu o tinha feito disparar. E ficou insistindo para dormirmos juntos. Opa, perai. Beijar tudo bem, mas dar assim, do nada? Na na nao mesmo. E outra: o beijo nem tinha me assanhado. Depois de uns minutos, consegui me desvencilhar do pegajoso e fui para a cama. Demorei para caralho para dormir. Me dava remorso, medo de ser barrada na volta, uma loucura. Mas dormi. E no dia seguinte, depois do cafe, fui comprar meus queijos, meus chocolates e sai do hotel. Fiquei 5 horas no aeroporto, lendo pela segunda vez o livro (que nem gostei tanto, mas era o que se tinha a mao) e esperando meu voo.

Confesso que foram os dois melhores voos da minha vida. Nada de turbulencias, nem leves. Nem senti as aterrissagens. Desci do aviao, cheguei no Controle de Passaportes com o cu que nem vento passava e entao...entrei. Sem perguntas, sem pressao, eu tava de volta a casa. E eu soh pensava em ver o Joselito.

Ate que essa viagem me saiu melhor que a encomenda.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Próxima parada: Suíça!

Confesso que está cada vez mais difícil conseguir um tempo bacana para postar nesse blog. Quando vou até a casa da Mari para usar a net, acabamos comendo, fumando, conversando e quando vejo já é hora de sair para trabalhar, ou de começar a tomar umas na base, ou sair para ver seu Joselito...enfim, a movida segue.

Meu visto de turista vence agora, dia 15. Como já contei aqui antes, mudei minha passagem de volta para dia 17 de dezembro. Se até lá eu nao arranjar um trampo fixo vou voltar. Mas enquanto dezembro nao chega e a vida continua, eu precisava pensar no que fazer. Sem visto eu iria ficar presa em Barcelona até dezembro, com medo de ser parada na rua pelos Mossos d´Esquadra, ou pela Extranjeria, com o cu na mao de distribuir os flyers e ter que pagar multa e tal. Entao, conversando aqui e acolá, acabei optando por sair da UE para ganhar mais 3 meses no passaporte. E de alívio, claro. Pensei em ir para o Marrocos, ia ser irado, mesmo indo sozinha, mas tá super caro. Acabei optando pela Suíça mesmo. Vou neste sábado e volto segunda.

Confesso que depois de comprar as passagens passei dois dias com um puta cagaço. Sério. Ai, com medo de me fazerem zilhoes de perguntas para me deixarem entrar, medo porque nao domino o idioma, medo da volta...Medo. Acordei ainda me sentindo assim, instável. Foi aí que lembrei que tô na TPM. Agora já me sinto melhor. Sei que vai dar tudo certo. Por mim, por aquele cara lá em cima que gosta de mim pra caralho, pelos meus amigos daqui, por vocês que me lêem aí no Brasil, em Londres, em Stutgartt...Valeu pela torcida. De coraçao. Tenho internet no hotel onde ficarei mas como terei apenas dois dias por aquelas bandas, creio que mal vou parar para escrever. Quero ver tudo que o tempo e a disposiçao me permitirem. E assim que der eu posto as novidades. Juro!

sábado, 6 de setembro de 2008

"Eu gosto muito de você!"

Segunda-feira levantei razoavelmente cedo, tomei um banho, lavei a peruca e me pus a fazer as malas. Era o dia da tão esperada mudança. Graças àquela pessoa que gosta de mim pra caralho lá em cima, mais 4 braços se ofereceram para me ajudar com as malas. Ainda bem porque senão eu teria de dar umas 3 viagens, no mínimo, para transportar tudo. Parece que toda vez que faço mudança meus pertences aumentam (e olha que eu não faço compra de roupa, sapato, nem nada). Bom, lá pelas 6 da tarde a Mari chegou e logo o Antonio, meu outro amigo brasileiro, apareceu também. Nos colocamos em marcha para pegar o metro. E dá-lhe subir e descer escada com as tais malas, uma mochila e algumas bolsas. Foi um pouco cansativo mas nada que pudesse matar alguém. Assim que cheguei e deixei tudo no quarto, me arrumei pois ainda tínhamos um jantar (justamente nós 3) no restaurante de um outro amigo brasileiro, o Fernandes. Para resumir a noitada de comilança rolei na casa até às 4 da manhã, sem poder dormir com a pança cheia. E fazia calor. Muito. Essa foi a primeira coisa que notei no quarto novo. Ou melhor, a segunda. A primeira é que a cama faz barulho pra caralho. Mas eu sobrevivi.

Terça-feira fui visitar seu Joselito em Vallcarca porque o joelho dele tava mesmo fudido e ele nem quis sair para jantar na segunda (e olha que ele ama comer...se bobear mais que eu). Levei alguns doces como cortesia para ele e para Esther pois eu sabia que ela também estaria em casa (acho que já comentei sobre ela, é a companheira - ou compi, como se diz aqui - de piso do Joselito). Cheguei e confesso que fiquei um pouco assustada: o joelho dele estava imenso. Tomei algumas cervejas enquanto eles terminavam o almoço e depois fomos ver um filme. Ainda não tinha visto "Onde os fracos não têm vez", dos irmãos Cohen. É, o filme serviu para me mostrar, mais uma vez, que a vibe desses cineastas não me mola (não me apetece, não me toca). Mas tenho que dizer que o filme é o Javier Bardem. A montagem e a fotografia são boas, o elenco também, mas...enfim, não fez minha cabeça. Já deitados, devidamente acomodados com nossos sonos e alguns porros na mente, tive que mostrar serviço (afinal ele tava mal da rodilla). Depois, perguntei para ele se eu já havia dito alguma vez que gostava muito dele. Claro que ele respondeu que não. E claro que eu falei de novo. Primeiro em espanhol, que eu já disse que não me soa bem (me gustas mucho). E depois em português. Depois ficamos ali, muito tempo, a nos acariciar, a namorar como dois adolescentes apaixonados. É, acho que estou ficando enamodada dele mesmo...

Quarta-feira, depois de muita insistência minha, fomos ver um médico (ele tentou trabalhar no trixi e não conseguiu, dobrar a perna custava muito). Chegamos lá e...bem, perdemos a viagem. Ali ele descobriu que o convênio não cobria aquele tipo de consulta (o convênio que ele tem da empresa). Só restava a ele marcar uma visita com seu medico de cabecera. Restava a mim fazer hora antes da reunião com os promotores da Bikini. E nos restou, então, sentarmos num bar e tomar umas cervejas vendo o tempo passar. Pude fazer as perguntas todas que ainda me rondavam a cabeça acerca de sua origem (descobri que ele nasceu em Mallorca e não em Menorca. Ambas são ilhas, mas são distintas e um tanto distantes...), sua formação e, porque não, seus ex-relacionamentos. Foi uma conversa produtiva, engraçada, e claro, cercada de beijos, abraços e Voll-Dams.

À noite, fui repartir os flyers e depois ia para casa, direto. Mas acabei indo para a Bikini com a Mari e o Antonio. Acho que fiz bem porque me diverti a valer e voltei para casa lá pelas 4 e meia da manhã daquele jeito...

Então chegamos à sexta-feira e à esperada festa de aniversário de Javi (amigo dos trixistas). Jose já estava melhor, já conseguia pedalar. Dormi lá de quinta para sexta e o ajudei a ir até o trabalho com uma mochila super pesada cheia de equipamentos eletrônicos. Ele ama música, tem um ótimo gosto musical, como eu já disse, e também tem um puta barato de colocar som nas festas (Dj aqui se chama pincha-discos). Ele ia discotecar e eu não iria perder. Trabalhei que nem uma louca durante a tarde e me preparei para ver o acontecimento. A festa até que tava legalzinha, dancei salsa com o Rodrigo (outro trixista), com o Gabriel (mais um) e, ao final, com Joselito. Aconteceram algumas coisas no mínimo, peculiares, nesta festa. Primeiro que pedi uma breja e a camarera me disse que só tinha canha negra (chopp escuro). Não quis e fiquei com um gin toni para, na seqüência, o Rodrigo pedir o mesmo e receber uma Estrella. Acho que a mina não foi com a minha cara. Depois misturei as Voll-Dams e o gin toni com 3 porros e fiquei mal. Mas mal da cabeça mesmo, não do estômago. Parei de conversar com o povo da mesa e tudo. Jose viu que algo raro se passava e veio em meu auxílio. Deixou Marcos no comando da pick-up e veio me dar um pouco de água. Quinze minutos depois eu era outra pessoa e voltei para a pista para bailarmos. Foi quando um cabeludo se aproximou e teve a cara de pau, mesmo vendo que eu e Joselito estávamos quase grudados (sem mãos dadas, nem nada, mas já tínhamos dado uns bons pegas pela pista), de perguntar se podia falar comigo. Joselito respondeu que se ele queria fazer alguma pergunta, que fizesse a mim pessoalmente, afinal eu não era muda e nem surda. E não foi que o cara fez mesmo? Chegou dizendo que tava a fim de falar comigo a noite inteira. Minha resposta: "pues yo no", e abracei Joselito por trás até o fulano se inteirar (se é que já não sabia) que estávamos juntos. Ainda falou umas coisas que nem fiz questão de entender e saiu. Joselito viu que eu fiquei meio encabreada e tratou logo de vir me agradar. Esperava que ele dissesse algo, como "melhor não, estamos juntos", ou "ah cara, a mina tá comigo, desencana". Acho que ainda tenho muito que aprender sobre relacionamento com os espanhóis.

Pouco depois a festa tinha que parar, o clube onde tava rolando o evento tinha que fechar às 4 e já eram 4 e alguma coisa. Pegamos nossas mochilas, nossas bicis e subimos para Vallcarca. Claro que quase morri na subida, com todo o peso do corpo, da Isolda e da mochila. Ele ainda quis fazer uma pausa, por mim, mas eu achei melhor subir de vez, vai que eu páro e perco o embalo? Chegamos, nos banhamos e quando perguntei as horas (depois de fumar o último porro), já eram 5 da matina. Jurava que ele ia querer dormir, estávamos cansados e tal. Mas quando eu disse "bona nit" (boa noite, em catalão), parece que algo se acendeu dentro dele. Aí pude perceber que a rodilla dele estava totalmente curada. Um tempo depois, já no nosso namoro de travesseiro, ele me pergunta: "yo ya le dije que me gustas mucho?"; e eu: "hmmm...creo que no". Ele continuou: "tampoco te he dicho en portugues?", e eu: "tampoco". Então ele me solta: "eu gosto muito de você!". Enchi-o de beijos. Acho que foi umas das coisas mais bonitas que ele poderia ter me dito ali, naquela hora.

O resto é resto.

Atualizações:
- Vou começar um curso de catalão. Sei que é uma língua que quase ninguém fala, que não se usa em canto nenhum a não ser aqui, na Catalunha, mas...é de graça e eu não ando fazendo porra nenhuma o resto do dia. Depois conto mais.
- Comecei uma dieta básica. Nada daquelas loucuras de ficar sem comer porque não posso me dar o luxo de adoecer aqui. Mas creio que logo, com o auxílio da Isolda, vou ver o resultado.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A grande putada

O sábado veio, se foi e eu fiquei bem feliz da vida de pensar que eu poderia estar voando de volta ao Brasil. Mas eu nao fui. Continuo aqui, firme, forte e de malas prontas para mais uma mudança (que espero sinceramente ser a última...ou que se eu tiver que mudar que seja para morar com alguém). Também esperei que a Tamie desse sinal de vida pois, segundo a própria, ela chegaria em Barcelona neste sábado. Nada da madame.

Entao veio a noite de sábado...

Há dias Joselito dizia aos amigos de trabalho que queria ver todos de volta à base dos trixis até as 10 da noite porque ele ia ver o show do Kiko Veneno. Claro que eu iria junto, nao ia perder por nada a chance de ver, ao vivo e de graça, o cantor preferido de seu Jose e, por tabela, escutar uma das cançoes que mais gosto, de autoria de Kiko, chamada Te Echo de Menos (Tenho saudade de ti). Mesmo sendo longe (o show era em Ripollet, fora de Barcelona) eu tava a fim de me aventurar com ele por aí. A proposta era irmos de bicicleta até o Renfe, enfiar as bikes no trem, pedalar um pedaço da estaçao até o parque onde ia rolar o show e voltar a Barcelona de bicicleta pois de madrugada nao teríamos como voltar. Ok, topado.

Na última hora Txisti (amigo de longa data de Joselito e por tabela meu também, gente boa e totalmente louco) achou de chamar uma amiga e esta ia demorar quase meia hora para nos encontrar. Já estávamos na entrada da estaçao de trem, eram quase 10 e meia e se perdêssemos esse trem, o outro so passaria às 11, hora do começo do show. Para nao deixar Txisti esperando a amiga sozinho, ficamos todos ali, sentadinhos, esperando a moça. Fumamos uns porros, tomamos umas cervejas e Jose percebeu que estava sem o celular. Resolveu voltar até a base na bicicleta do Txisti para pegá-lo (ainda dava tempo). A bici que Jose trazia nesta noite nao era a sua habitual, mas uma outra que ele levou até a base para arrumar o selin mas nao conseguiu. Ou seja, a bici nao estava lá para grandes aventuras.

Quando Joselito chegou, achei que ele tinha um ar estranho e realmente estava certa. Ele havia caído com a bici do Txisti e, de acordo com ele mesmo, experimentou pela primeira vez na vida a sensaçao de voar. Na queda ele arrebentou um joelho, ralou o outro e um pouco a mao esquerda. Na hora, com o sangue quente, acho que ele nao se deu conta do estrago. Bom, aí a Alonia chegou, pegamos o trem e chegamos a Ripollet. De lá, pegamos uma senhora subida até o parque e descobrimos que teríamos de atravessar uma festa deste pueblo para chegar ao local do show. E lá vao os 4, empurrando bicicleta festa afora, chamando atençao de todos. Detalhe: sem combinar nem nada estávamos todos de blusa vermelha. Todos. Uma senhora me perguntou se estávamos em um tour. Eu respondi que nao, mas acho que errei a resposta.

Quando chegamos perto do palco, Joselito já se pôs a cantar e nós procuramos um lugar para encostar as magrelas, tomar umas brejas e fumar uns porros. Mas nao deu tempo. Assim que paramos o Kiko se despediu. Sim, chegamos no final do show. Só que, como aí no Brasil, ele voltou para um bis. E a musica escolhida se chamava Ahi viene Joselito. Foi uma pena mas...fazer o quê? E já que estávamos ali, já tínhamos chegado tao longe, o negócio era beber e fumar. Sentamos num gramado e escutei o primeiro "ai" do Joselito. Acho que nessa hora ele se deu conta do estrago no joelho.

Logo começou outro show, de uma banda catala chamada Gertrudis. Muito bom o show! Dancei muito e até o Joselito, com perna manca e tudo, dançou a valer. Compensou, pelo menos um pouco, nosso esforço até entao.

Mais uns 5 porros e umas cervejas depois, decidimos nos colocar em marcha, de volta à cidade. Joselito concluiu que nao poderia pedalar de volta e resolvemos todos tentar entrar com as bicis num ônibus noturno. Neste trajeto, um dos pedais da bici se soltou e entao nao dava mais para insistir. Bem que eu percebi que a bike nao estava para grandes aventuras...Pedimos informaçao a uma mulher e ela nos disse para ficarmos no ponto mesmo onde estávamos, que o busao passaria. E realmente, uma hora depois, quando já estávamos quase congelados de frio, o busao passou. Ele até deixaria as bicis entrarem se...estivéssemos no sentido certo. Estávamos esperando do lado errado da rua, guiados pela vaca gorda que nos deu a informaçao. E bem ali, enquanto o motorista dizia que deveríamos cruzar a rua para esperar do outro lado, nosso busao passou. Rápido como uma flecha. Só nos restou olharmos uns para os outros e rir...para nao chorar.

O que nos restava? Já eram 5 da matina, dentro em pouco o trem ia voltar a funcionar entao caminhamos até a estaçao. Sentamos bem juntinhos para ver se o frio passava, tava foda. Ao final, Joselito dormiu na minha casa porque nao tinha mais condiçoes para nada, menos ainda de ir até Vallcarca. Dormiu gemendo um pouco de dor e acordou com o chefe falando umas groselhas sobre uma gravaçao de tv, nao entendi bem. E foi trabalhar. Eu? Eu passei o dia todo na cama, dormindo e lendo. Só levantei para ir repartir os flyers e depois ir à Bikini receber.

Nao foi de todo mal porque bebi horrores, ri de quase mijar com a Mari sambando, o Antonio beijando todo mundo e o Toh com as galinhagens dele. Voltei para casa 5 e meia da manha, sozinha. E pela última vez olhei o Gótico de noite. Os paquistaneses e suas cervejas, os negros chatos que sempre tentam falar comigo, em todos os idiomas possíveis, a guardia urbana tomando conta da praça onde vivo...da próxima vez que voltar da Bikini, estarei na casa nova.