sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Mais mudança e os italianos

Depois de quase um mês vivendo no Gótico é hora de juntar os trapinhos de bunda e realizar mais uma mudança que, espero, seja a última até dezembro. Foram quase 30 dias neste que é um dos bairros mais antigos da cidade (pertecente à zona chamada de Ciudat Vella). Depois do horror inicial com a baratas que habitavam a cozinha e do medo de voltar sozinha para a casa, as coisas foram entrando nos eixos. De tanto reclamar das visitantes asquerosas, Adriá (o catalão que mora comigo e trabalha para o Greenpeace entre outras coisas), resolveu colaborar e passou 6 horas limpando a cozinha toda. Jogou a comida vencida fora, tirou os lixos e a cozinha ficou minimamente utilizável. Nesse meio tempo eu também andei ajeitando o que pude, varrendo e tirando o pó das áreas comuns (nada muito pesado, só para me sentir um pouco melhor). Mas também, se dormi 15 dias no meu quarto foi muito. Praticamente morei em Vallcarca, com seu Joselito. Acho que vou sentir falta do Adriá (que já perdeu a chave de casa no mínimo duas vezes enquanto moramos juntos), do Luis e do Nuno (portugueses que estavam de viagem e voltaram esta semana) e de toda bagunça deles. Porém vou viver agora em Eixample, zona considerada nobre na cidade, num quarto super xuxu, com móveis novos, casa limpa e mais 4 companheiros de piso, que dos quais só conheci Ernest e já me pareceu um cara muito sangue bom. E estarei a menos de 5 minutos da casa da Mari, que vai ser perfeito para os nossos almoços fora de hora ou jantares madrugadeiros. Se tudo der certo, me mudo amanhã mesmo, senão só na segunda. Já estou um pouco ansiosa...

Meu espanhol melhora, agora a passos mais lentos porque acho que o grosso mesmo eu já assimilei. Consigo entender tudo quando uma pessoa fala comigo, exceto se essa pessoa é o Txisti (porque ele é do País Basco e fala super enrolado) ou Joselito com voz de travesseiro pela manhã. De resto tá de boa. Escrevo e leio bem também, afinal castellano não tem muito mistério. O próximo passo agora é procurar um curso gratuito de catalão. Creio que também não vai ser muito difícil, afinal entendo algo já e leio bem também. E o que eu não entender, posso solicitar ajuda do meu professor particular: seu Jose Luis Pareja, vulgo Joselito.

Esta semana recebi convite dele para jantar e quando cheguei em Vallcarca encontrei Nonato, o vizinho italiano, por lá a tomar umas cervejinhas. O cara é muito gente boa, bem estilo bonachão. Nos conhecemos numa manhã de sábado (ou era domingo?), depois da minha primeira noite com Jose na casa dele. Quando abrimos a porta para sair, estavam Nonato, Laura (a esposa) e Anita (a filha de 10 anos) pegando o carro para ir à praia. Laura ficou espantada comigo, deve ter sido pelo cabelo, aposto. E eu gostei de todos eles logo ali, mesmo com o desconforto de ser pega quase com a boca na botija.

Ficamos conversando um pouco e logo Jose propôs montar a mesa do jantar. Nonato dizia que tinha que voltar porque Laura já o esperava com a mesa posta. Depois de muito blá blá blá e insistentes protestos de Jose e meus para que todos jantassem juntos no nosso cafofo, Nonato e Laura venceram e lá fomos nós com nossas respectivas bocas famintas e uma salada feita por Jose que estava simplesmente sensacional.

Depois de jantar, quando já na rua nos despedíamos para ir dormir, começou uma pequena discussão. Era o dia em que a galera deixa na rua os móveis e eletrodomésticos que não quer mais. Isso é uma coisa muito bacana do povo daqui porque a galera joga n lixo e logo outra reutiliza. E pensa que é feio fazer isso? De jeito nenhum, é super comum e conheço gente que praticamente montou a casa assim. Fantástico! Mas voltando...Nonato queria levar para a casa uma mesa super guai que encontrou na calçada em frente. Dizia que era ótima de mesa de centro e tal. Logo Laura contestava dizendo que só deixaria a mesa entrar se eles tirassem algo de dentro, afinal a casa era pequena para ficarem entulhando coisas. Nisso Anita dava idéias de como utilizar a mesa, onde deixá-la...E essa conversa toda em italiano, em tom de briga, típico desse povo. Joselito olhou pra minha cara, me pegou pelo ombro e disse: "os italianos são assim, nunca se dão trégua, vamos para a casa que a gente ganha mais". E fomos...ouvindo ao fundo a ladainha dos 3.

Amanhã temos um showzinho grátis, de um cantor chamado Kiko Veneno. Escutei algumas músicas e até gostei. Vou pela bagunça, pelas cervejas, pelos porros e, é claro, pelo seu Joselito, que ama o cara. Mas também vou para conhecer o cara, escutar um som ao vivo sempre é bem-vindo. Depois volto para contar como foi.

Estive pensando em começar a postar em espanhol, o que vocês acham?

domingo, 24 de agosto de 2008

Festa de Gràcia, as Fuentes Mágicas de Monjüic e uma noite de jazz

Antes de ler este post, eu recomendaria que você, que é meu amigo e como tal suponho que tenha um excelente gosto musical, selecione uma boa seleção de jazz e se acomode tranqüilamente em frente ao computador. Desfrute a música e tente imaginar tudo que vou contar a partir de agora.

Sugestão da tia: Ahmad Jamal - para se ter uma noção do que eu tô falando, o cara era nada mais, nada menos, que o pianista favorito de Miles Davis. Mandei bem, fala aí? E ainda dormi ouvindo esse som...

Do dia 15 ao dia 21 de agosto, Barcelona vibrou com as festas de Gràcia, um bairro super tradicional da cidade. Mari e eu, como jornalistas e festeiras que somos, demos nossas belas caras já na primeira noite. Encontramos uma amiga dela por lá, uma londrinha gente boa chamada Cas. Ficamos na Plaza del Sol que hospedou a Plaza del Folk. Dá para imaginar uma espécia de circo, armado com lona branca, onde o chão era forrado de tábuas de madura um pouco suspensas do chão e onde em Dj super tranqüilo mesclava música folk e celta com mais algumas coisas? A gente dançava mesmo sem saber, batendo os pés no chão ou chacoalhando com a vibração de outro centenar de pés que também se chocavam com a madeira. Foi incrível, de arrepiar. Sem contar que estava um super clima astral, todo mundo rindo, se abraçando para dançar em roda, ou com os amigos, como nós. Do lado de fora da tenda, a movida seguia como tinha que ser: todo mundo devidamente sentado (no chão, nos bancos públicos ou nas terrazas dos bares), enchendo a cara e fumando porros. Pena que a gente tinha que trabalhar para a Bikini e não pudemos ficar até muito tarde.

A semana transcorreu toda em paz, tranqüila, tranqüila. Estou procurando outro quarto mas até agora não encontrei nada que preste. Encontrei um bacana mas para começar dia 15 de agosto (e perder meio mês de aluguel) então desencanei. Achei outro, numa casa de uns gays que eu até me empolguei por ser perto da casa da Mari mas quando fui visitar...que putada. No quarto não tinha janela, dá para acreditar? Mesmo todos eles tendo sido uns fofos, não ia rolar. Essa semana estou para ver mais alguns. Sem pressa, devagar e sempre.

Fiz uma entrevista em um restaurante super chique e na primeira semana de setembro eu vou voltar lá para fazer as provas. O lugar é fino no último. Até fiquei meio assim de ter de trabalhar num pico tão formal, mas depois que vi que praticamente só trabalham brasileiras no recinto fiquei mais empolgada. Quem sabe?

Aconteceram duas coisas curiosas essa semana: a primeira é que tive febre uma noite dessas. Do nada comecei a me sentir mal a tarde e quando chegou a noite meus olhos estavam como bolas de fotos. Era, inclusive, o último dia da festa de Gràcia. Senti por ter de vacilar com a Mari, mas eu já não era uma boa companhia, então. No dia seguinte nem sinal de dor, nem de mal estar, nem de nada. Diz meu pai que devia ser uma virose. Achei estranho, um dia só...felizmente não foi nada grave. Morro de medo de ficar doente aqui, do outro lado do oceano. Claro que eu teria a quem recorrer, mas nada se compara a atenção de pai e mãe, né?

No dia seguinte, distribuindo os flyers, começou a chover. Para não me molhar e correr o risco de ficar com febre de novo, corri até a Isolda e pedalei para casa. Foi aqui que aconteceu a segunda coisa rara: correndo da chuva, tentei frear para não passar no farol que estava fechado para mim e...catapum! Caí. Isolda de um lado, bolsa de outro e eu no meio com o joelho fodido. Um mocinho, super gato, me levantou, perguntou se eu estava bem (olhando para aquele rosto até esqueci da dor), colocou a corrente das marchas de volta no lugar e eu segui para casa. Tomei banho e fui ver o estrago todo: alguns arranhões no joelho direito e um graaande hematoma embaixo. Sem falar que o dedão ficou quase sem esmalte. Entre mortos e feridos, todos salvos.

Ainda pensei em distribuir os flyers a noite, mas como choveu de novo resolvi manter resguardo e fiquei em casa. Estava liada com o Catedral del Mar (que terminei e achei muito boa a história da catedral construída pelo povo e para o povo) e segui lendo. Até que seu Joselito ligou e foi até minha casa me ver. Conversamos um pouco, fumamos um e dormimos. Foi infinitamente melhor que ficar tomando chuva na Rambla.

Ontem passei o dia todo de puta madre. Já acordei bem (afinal, dormir com Joselito é sempre um presente e acordar também). Ele tinha que ir trabalhar e eu fiquei de passar pela base um pouco depois para levar o café da manhã. Levei bocatas, um suco e desayunamos. O menino tava impossível. Diz ele que já acordou assim, com o piloto rojo encendido. Mal podíamos nos beijar que as coisas já aconteciam. Tanto que ele teve que tomar uma ducha fria antes da gente sair e tomar um café. Fomos andando abraçadinhos, trocando carinhos, até Santa Maria Del Mar. Sentamos no Belarmino e tomamos dois cafés cada um. Olhando a igreja, o movimento das pessoas...Voltamos para a base e, pouco depois, outra ducha fria. Juro que eu tava me comportando, ele é que tava doido, dizia que tava ovulando...É cada uma que eu tenho que ouvir.

Lá pelas cinco e tanto da tarde fomos almoçar. Atenção para a chamada: Joselito, Marcos, Miguel (para os trixistas ele é o Senhor Miag, para Mari e para mim ele é o Mestre os Magos, por ser um cara super tranqüilo, do bem) e eu. Comemos num vegetariano e de lá, o casal 20 pegou carona no trixi do Marcos até Santa Maria del Mar de novo para o terceiro café. Nada mal para um sabadão preguiçosamente delicioso. Voltamos a base e de lá voltei para casa. Afinal Joselito já teve uma boa cota da minha inestimável presença durante o dia. Ok, ok, ficamos o dia todo juntos porque ele não tinha nada o que fazer na base e eu muito menos em casa. A noite Mari foi em casa para irmos juntas ver um espetáculo que há muito tempo já eu queria ter visto: as Fuentes Mágicas de Monjüic.
As fontes são algo absurdo de lindo. Durante boa parte do verão, por causa da seca, elas ficaram secas, desativadas. Mas tem uns 15 dias que voltaram a funcionar, com espetáculos a cada meia hora. As águas mudam de cor e dançam conforme música. Simplesmente emocionante. Tirei foto pra caralho. Como estas.
De lá, Mari e eu fomos comer. Ela, lista que é, pediu as famosas patatas bravas que eu, há mais de dois meses na cidade, ainda não havia provado. Divinas! Acompanhadas de um ...chá gelado. Não sei, não tava a fim de breja.
E contrariando minhas expectativas, seu Joselito me chamou para dormir com ele, em Vallcarca. A julgar pelo estado de excitação que ele passou o dia, imaginei que não sobraria Kele para contar essa histíoria hoje. Bem, a noite, claro, foi estupenda. Lembro de ele me perguntar, lá pelas tantas, depois de uma cerveja, dois porros e um pouco de amor, como eu me sentia. A resposta foi: "me siento esplendida...". Dormi abraçada a ele, apoiada em seu peito e pela manhã, por mais que eu quisesse, não conseguia abrir os olhos de tanto sono. Ele sim, levantou, arrumou as coisas e quando estava para sair, pediu para que eu continuasse dormindo até a hora que quisesse, para ficar a vontade. Fiquei até quase uma tarde quando voltei à vida real.
Ou será que ainda estou sonhando?

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Dois meses

Ergamos nossas taças imaginárias e brindemos aos meus dois meses em Barcelona! O dia está lindo, um sol gracioso, um ventinho refrescante que não cessa e eu aqui, na casa da Mari, escrevendo enquanto ela prepara nosso almoço. Agora virou moda: ela bota a mão na massa e eu uso a net. Parece até que sou folgada. Digamos que sou um pouco mesmo, mas ou é isso ou não tenho como postar e nem como usar internet.

Uau! Nem eu acredito que já faz dois meses. Lembro exatamente da minha chegada, da primeira visão que ficou grudada em mim de Barcelona (o aeroporto todo preto), a primeira noite, os amigos trixistas, depois o Sabonete, as mudanças de casa, a Sala Bikini, a Isolda e, finalmente, o Joselito.

Dormimos juntos esta noite e desde que levantei estou com vontade de escrever sobre ele. Hoje talvez seja o dia perfeito. A Lua mudou ontem, estamos na lua cheia e seu Jose se sente influenciado por ela. Não sei porque, mas a explicação dele é de que é porque ele é de Câncer.

Joselito
Ele estava entre os trixistas que conheci na primeira noite em Barcelona, mas não sei porque cargas d'água eu nem dei bola. Não sei se por ele ter dreads e eu não achar a menor graça neles (até então). Não sei se porque ele também não me deu muita pelota. Ou talvez porque eu achasse que ele era italiano (não sei de onde tirei isto). O fato é que só fui me dar conta dele dias depois. E nem foi pela beleza que, aliás, a meu ver, lhe falta um pouco. Mas o que talvez falte em beleza sobra em carisma, simpatia, diversão, astúcia, inteligência, consciência ambiental, humana e muitas outras coisas. A primeira coisa que enxerguei nele foi o senso de humor. Se ele ficar 5 minutos com alguém é capaz de fazer, nesse intervalo, mais de duas mil brincadeiras. Seja com a forma de falar da pessoa, com algo que a ela disse, seja pela roupa...não importa. Confesso que isso me atraiu muito nele. Depois me encantei com a forma como ele trata os idosos e as crianças. Creio que se ele tivesse em tapete vermelho na mochila, seria capaz de estendê-lo à frente de todos os abuelos que ele encontra pelo caminho. E com as crianças? Troca idéia de igual para igual. Pára a toda hora, se estiver trabalhando, para mexer com alguma que, por acaso, cruze o seu caminho. Depois descobri, por ele mesmo, que ele adora crios. Tanto que foi durante um tempo monitor em um acampamento. E quanto aos avós...:"temos que trata-los com o maior respeito possível pois são gente que viveu muito, viu muita coisa e sempre têm algo de interessante para contar". Se você leu tudo até aqui, imagine que ao escrever isso eu estou quase suspirando...

Cerveja vai, noitada vem e finalmente nós ficamos. E ficamos mais, e mais. Passei a dormir alguns dias na sua casa e me sentia como uma princesa. Recebia sempre muito carinho (antes, durante e depois de qualquer coisa). Sempre havia uma cerveja e um copo (!!!) gelado me esperando. Sempre tinha um porro também. E sempre aquele aconchego da cama. Dormir com ele era ótimo e acordar melhor ainda. Sempre com palavras doces, bons dias regados a sorrisos e beijos em todo o meu rosto, depois pelo meu corpo. Agora que já levamos mais de um mês nesse romance, já não me sinto mais uma princesa. Agora eu sei que sou tratada como rainha. Mal durmo no meu quarto no Gótico. Ádria todos os dias pergunta se voltei para casa. Acho que em 15 dias durmi 3 vezes na casa dos meninos, um dia na casa da Mari e os outros todos com Jose. E nunca me ofereço para nada, é sempre ele que me convida. Ou pessoalmente, ou por mensagens carinhosas e ao mesmo tempo divertidas. Cada dia que descubro algo sobre ele, o que ele fez ou o que fez, me sinto mais encantada. Tenho certeza que encontrei um homem raro. Muito raro. E sinto cada vez mais vontade de cuidar bem dessa jóia.

A data da volta
Ontem pedi para mudarem a data de volta da minha passagem. Estava marcada para dia 30 de agosto e agora só volto dia 17 de dezembro. Aliás...será que eu volto mesmo? Às vezes me pergunto se quero voltar. E a resposta é sempre não. Porque ainda estou em lua-de-mel com tudo, porque ainda acho que tenho muito para ver pela Europa (a começar pela própria Espanha), porque acredito que algo de muito bom ainda vai me acontecer. Sim, já se passaram muitas coisas boas, mas acho que o melhor está sempre por vir...

Mudanças bem-vindas
Se tinha gente que me achava estressada demais em São Paulo, essa gente ia se surpreender com o que me tornei nesses dois meses. A vida aqui tem outro ritmo, talvez porque eu me sinta em férias constantes por não ter um trabalho diário, rotineiro. Sinto-me muito mais tranqüila, com tudo. Não sei quando foi a última vez que me irritei com algo. Nem quando cheguei na casa nova e vi que tava tudo nojento. Nem quando não conseguia dormir no albergue, na primeira semana. Nem quando a dona do piso em Poble Sec me tirava para Cristo e botava toda culpa pela desordem na casa em mim. Nem quando pego ônibus errado. Nem quando me perco (e isso acontece, pelo menos, 3 vezes ao dia). Nada. Nem TPM eu tenho aqui. Só sei que vou ficar menstruada porque meus seios ficam mega doloridos. Não me importo de suar o dia todo e só tomar banho à noite (quando dá eu tomo mais, mas se não rola também não tem crise). Não me importo de demorar quase meia-hora para chegar da casa do Jose até a minha casa porque tem gente demais pelo caminho e eu não quero importunar quem está na calçada. Espero tranqüilamente que as pessoas se dêem conta que tem uma bici atrás delas ou...eu simplesmente espero. Esperar. Esse verbo que eu nunca conjuguei bem em São Paulo é um exercício diário na minha movida aqui. Agora mesmo, escrevendo este post, tento encontrar algo que possa me tirar do sério e a resposta é...nada.

Procura-se
Estou procurando outro quarto para morar. É cedo ainda, afinal fico no Gótico até 4 de setembro, mas quero olhar com muita calma, visitar os pisos para não entrar em fria de novo. Comentei isso com Joselito e ele disse que uma mulher prevenida vale por duas. Claro. Outro dia, como tínhamos sede e não tinha onde a gente comprar água, ele sacou uma garrafa da mochila e disse que um homem prevenido vale por dois. E para fechar a nossa conversa sobre os quartos ele completa: "agora somos quatro".

Dia dos pais
Eu gostaria muito que meu irmão ou minha prima mostrassem isso para o meu pai. Domingo foi Dia dos Pais no Brasil e eu nem me dei conta disso. Aqui não tem essa comemoração e eu só lembrei porque alguém perguntou se eu tinha ligado pro Brasil para desejar Feliz Dia dos Pais pro meu pai. Na hora me deu até um friozinho no coração, por ter esquecido. Mas imediatamente achei tudo uma bobagem. Data comercial da porra. Penso no meu pai todos os dias. Senão imediatamente ao acordar, logo que vejo ou faço algo que ele também iria gostar. Lembro dele quando vejo os artistas de rua daqui e penso que ele, com a violinha debaixo do braço e tocando pro povo, ia fazer o maior sucesso e ainda ganhar em euros. Penso nele quando estou com uma pessoa que acabei de conhecer e me vêm à cabeça a última frase dita por ele para mim no aeroporto: "não confie em qualquer pessoa". Mas não tem jeito, eu confio. Não consigo ver maldade nas pessoas e acho que isso me protege de algo de ruim que possa, por ventura, estar destinada a mim. E a tal da energia positiva. Lembro do meu pai quando abro uma cerveja gelada (e bebo todos os dias, sem exceção) e lembro das nossas noites de futebol na Globo. Lembro dele quando vejo os remédios que ele me fez trazer do Brasil (todos em vão porque tenho saúde de ferro e nem ressaca eu tenho). Meu pai, meu pai. Sempre falo dele para a Mari. Acho que porque de tudo e todos ele era a pessoa que eu realmente gostaria de ter por perto. Pai, se você estiver lendo isso, saiba que não é um dia como domingo que vai nos fazer mais ou menos próximos, mas sim o amor que sentimos um pelo outro. E você já deve estar careca de saber que eu te amo.

Por hora é só, pessoal.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O bairro Gótico, os companheiros de piso e a Fefê

Parem o mundo que eu quero desceeer!!! Esse tempo todo praticamente sem acesso à internet estava me colocando louca! Tanta coisa para escrever, para contar. Provavelmente vou esquecer de muitas, mas o arroz-e-feijao-nosso-de-cada-dia (ou melhor, de cada postagem) vai estar aqui, certeza.

Bom, segunda-feira passada eu mudei de casa de novo. Deu tudo certo, até porque a casa caiu pro lado do Eduardo, o irmao dele ficou sabendo que a casa tava cheia de gente (isso porque além de mim, ele hospedou a Fefe por 4 dias e mais um casal de amigos por um final de semana). Ordenou que ele esvaziasse a casa até segunda e era bem o dia da minha mudança. Ainda bem que já tinha descolado um canto senao ia ter que ficar na casa de alguém (tipo a Mari) de favor por uns dias.

Nao tinha visto o piso antes de mudar e quando cheguei na casa...fiquei de cabelo em pé de tanta sujeira. Mas também, numa casa com 3 quartos estavam morando 3 portugas e um catalao (aliás, um gato de 21 anos que se propôs a me dar aula desde idioma tao inusitado para mim) todos jovens, mais preocupados em comprar ou cultivar marijuana e outros entorpecentes que qualquer outra coisa. Depois do desespero inicial, tudo ficou nos eixos. O Adria é um fofo, o Luiz e o Vasco nem se fala. Estes dois últimos estao agora em Portugal, só voltam no fim do mês. A casa agora é só minha e do Adria. Na verdade mais dele, porque na maior parte dos dias da semana durmo em Vallcarca e algumas vezes, na volta da Bikini, na casa da Mari. E olhando o lado bom, o Gótico é um dos bairros mais antigos de Barcelona, repleto de prédios que devem ter a idade do Brasil e outros tantos mais velhos, é super central (tô do lado da Rambla, do metro, de busao, da Via Laietana...) e, como eu, é um bairro cheio de gente diferente, divertida e animada. À noite dá um pouco de medo de voltar sozinha por aquelas ruas estreitas, com edifícios altos, mas eu me acostumo.

A visita da Fefe
Quinta-feira à noite recebi a visita da Fefe. Trabalhávamos juntas no SG e eu a convidei para conhecer a cidade, afinal ela estava pertinho, em Londres. Foram 4 dias de andanças, fotos artíticas e pérolas, como "já sinto até calor de biquini" (frase solta depois da mocinha realizar seu primeiro topless, que segundo ela era o sonho da sua vida...); "o mundo é uma ervilha" (e eu entendi que era "meia ervilha" e achei do caralho porque é realmente isso que eu acho). E muito mais. Fomos para praia, saímos de Barcelona, andamos de teleférico (coisa que eu morando aqui há quase dois meses nunca tinha feito) e muita risada. Ainda caímos na balada no sábado, numa casa de eletrônico, na qual Mari e Joselito se racharam de rir enquanto eu bebia e o beijava nos intervalos. Na segunda fiz a mudança, com a companhia dela e depois ela se foi. Confesso que deixou saudade aqui. Mas tenho certeza que Barcelona a tocou em uma parte bem funda, e que assim que ela puder ela há de voltar. Eu estarei aqui, com fé, esperando-a para a segunda visita.

A Sala Bikini
Trabalhar para a Sala Bikini é a maior baba. Ainda mais se quanto a turma é composta por Mari, Toh e eu. Nao sai nada que preste, como diria a minha mae. A gente se joga para conversar com o povo em espanhol, tenta inglês, italiano, é uma loucura. E depois, invariavelmente, vamos curtir a balada e encher a cara. Agora vou menos porque prefiro vir para cá, para a casa do Joselito (onde estou postando agora) e ficar com ele do que ficar num lugar cheio de playboy. Às vezes eu vou para dar risada com a Mari e o Antonio, outro amigo que conhecemos aqui e que é fervidíssimo (como toda boa bicha). O duro é que sempre vamos dizendo que nao vamos demorar e bate as 5 da matina e a gente ainda tá lá na pista dançando e bebendo...de graça né, entao já viu...

Agora trabalho para eles quarta, quinta, sexta e domingo. Para começar está ótimo, nao tenho do que reclamar. Mas ainda procuro algo fixo, afinal mês que vem tem mais aluguel para pagar. Tenho grana, claro, mas nao quero esperar ela acabar para dar rumo na vida, né?

O show do Natiruts
Ontem o Natiruts tocou em Barcelona pela primeira vez e adivinha quem ficou na porta conferindo os nomes nas listas??? Bingo! Euzinha, acompanhada da Mari que estava credenciando os jornalistas e da Aju, que ficou no caixa...Foi muito divertido ficar na porta, recebendo todo mundo. Gostei mesmo. Quanto ao show...nem vi e nem fiz questao. Nao curto mesmo esse som e além do mais tinha mais um convite para uma noite dos deuses em Vallcarca.

E no mais é sempre a mesma coisa: sol, calor absurdo, dias longos, noites também...é a Movida Barcelona, como todo mundo chama este estilo de vida típico de aqui. Outro dia comentei com a Mari que ela e eu somos as únicas pessoas que rezam para o dia amanhecer nublado ou para chover um pouco porque tem hora que cansa tanto calor. Agora lá vou eu, procurar outro quarto para o próximo mês...desejem-me sorte.