1 ano

Era domingo, o céu estava nublado, fazia calor mas nao muito. Andei pelas Ramblas, tirei foto no Paseig de Colóm, fui até a Rambla del Raval, liguei pros meus velhos. Voltei pro albergue, dormi. À noite, desci para tomar uma breja no bar que estava bem na esquina e conheci uma turma de caras de diversas partes da Europa (dois italianos, um belga, um português, um catalán, um madrileño e um mallorquí com rastas). A breja virou duas, virou 4, virou cuba libre e só voltei pra casa lá pelas 4 da manha. Pronto, essa foi minha estréia em Barcelona e hoje faz um ano. Desses tíos que encontrei aí, vamos ver: um italiano montou um bar, fechou, foi morar em Granada e agora voltou pra Barcelona mas perdemos contato total. O outro abriu um restaurante e nos vemos quase nunca, mas nos vemos. O belga foi pra Índia e ninguém sabe se vai voltar. O madrileño já foi pra Alemanha fazer Dança Butto (até agora nao sei que caralho é isso) e voltou agora. O português segue aqui, super brother como sempre. O catalán também. E o mallorquí, como todos já devem saber, segue ao meu lado e mês que vem completamos um ano de namoro. Nao nos liamos nesta primeira noite, nem na segunda e agora vejo que tudo aconteceu exatamente como tinha que acontecer.

Já aconteceu de tudo nesse ano: 8 mudanças (incluindo morar fora de Barcelona duas vezes), trabalhos que rolaram, que deixaram de rolar, grana que acabou, ajuda dos pais pro guarda-roupa de inverno (que foi muuuito punk este ano, todo mundo disse), viagens à Suíça pra renovar visto, muita bebedeira, muita maconha, outros aditivos, muito beijo na boca, muito sexo e muita festa. E, claro, como nao podia deixar de ser, em toda boa história a mocinha tem sempre uma grande amiga (Mari, saiba que meu primeiro pensamento ao acordar foi você). Como tudo nessa vida é um ciclo, ela cumpriu o dela aqui e se foi deixando um mar de saudade. Penso que se a Mari estivesse aqui hoje a festa teria outro sabor. Mas já que nao pode estar e eu nao quero chorar as pitangas eu vou é erguer um brinde à ela na hora da festança.

Sigo vivendo um dia de cada vez, sem fazer planos concretos, apenas deixando que as idéias venham e voltem. Ainda nao sei se seguirei aqui muito tempo ou se irei embora mês que vem. Vontade nao tenho mas também nao me oponho se meu barco virar. Por tudo que já rolou até aqui já valeu a pena. Já tô no lucro faz tempo. Aqui consegui encontrar meu eu, a pessoa que sempre quis ser e nunca pude porque...porque...ah, porque nao era o lugar e nem o momento. Por hora vivo aqui, nessa cidade bonita, nessa Babilônia moderna, mais feliz que pinto no lixo e sendo feliz. Amanha, quem sabe?

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Essa semana levei uma multa com a Isolda. E tenho que dar graças a Deus por nao ter tomado duas. Consegui infringir duas regras de uma vez só: passar com a bici no farol vermelho e pedalar ouvindo música. O pior foi saltar o semáforo bem em frente do posto da Guardia Urbana na Rambla! Es que fue muy gillipollas, de verdad. A bincadeira me saiu 50€ (isso se pago dentro de 15 dias, ou seja, semana que vem, senao serao 100€). O pior de tudo, fora ter que desembolsar essa grana, foi que o guarda era um gato e o outro ficou trocando a maior idéia comigo, até pensei que nao ia me multar, que ia deixar tudo por isso mesmo. Mas claro, isso nao é Brasil.

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Comecei com os flyers para o Kan Kan. Sexta-feira fui super mal, quase nao entrou Cristo nas horas em que estava repartindo. Já no sábado bombou, e bombou bonito. Ontem também. Fico feliz por todos: por mim que ganho uma graninha a mais e ainda as brejas que quero tomar depois que termino (sem contar que o Toni e o Dani sao uns fofos e me tratam suuuper bem), e por eles porque o bar realmente é bem bacana e eu gosto de ver a galera lá dentro disfrutando de tudo: música, ambiente e os deliciosos coquitéis. Jose disse ontem pro Rodrigo, na minha frente, que com essa cara que eu tenho qualquer um aceita as minhas sugestoes e nem precisavam ser boas porque já valeriam só pelo sorriso. Com uns elogios assim até trabalho mais animada, né nao?

E por falar nele ontem, finalmente, tivemos uma pequena rusga. Por nada, claro. Eu queria que ele fosse comigo na festa do Beto, pra dar um "oi" e ir pra casa mas ele tava cansado e preferia ir pra casa. Fiquei muito puta, nem tinha motivo porque sei que o trampo dele é super pucahdo. É que gosto tanto de fazer coisas com ele que quando recebi esse "no, Perli, prefiero irme a casa" me subiu o sangue. Tanto que nao consegui nem beijá-lo quando nos despedimos (ele se assustou de me ver assim emputecida pela primeira vez em quase um ano) e meti a bici na marcha mais pesada para subir uma ladeira e ver se a raiva passava fazendo mais exercício do que o necessário. Quando cheguei no bar ele me mandou uma mensagem, pedindo pra eu nao me enfadar, que ele estava cansado e que eu mesmo estando enfada ele seguia me amando igual. Asi que tomei dois mojitos com manga mas a gusto que un arbusto e voltei pra casa. Hoje de manha ele me acordou, queria passar aqui antes de ir trampar pra deixar o equipamento de som (nao comentei, mas ele vai ser o Dj da festa). Conectou tudo, me encheu de beijo e eu fiz a única coisa que podia fazer: pedir desculpas por ontem, explicar que sou meio assim mesmo, que me sobe o sangue mas também passa logo, enchê-lo de beijos e dizer que eu também o amo muito. Nos veremos mais tarde na festa, com todos meus amigos, amigas, as bebidas, os comes que vou preparar e essa alegria que me invade porque hoje eu posso dizer que vim, vi e venci.